Dos surpreendidos de última hora

(Por José Gabriel, in Facebook, 20/07/2022)

Parece que muitos opinantes habituais descobriram que a Ucrânia, com os mais recentes desvarios de Zelensky, corre o risco de ficar sujeita a dois pesadelos: um interno – a campanha de “purificação” e limpeza política levada a cabo pelo queriducho da UE – e a guerra movida pela Rússia.

Mas, ó anjinhos, só agora é que descobriram que há uma campanha de terror interna? Só agora, quando a procuradora-geral e o líder da segurança nacional – acompanhados de vários oficiais superiores – são sujeitos à perseguição do núcleo fascista hegemónico do governo é que descobriram que há uma ditadura fascista instalada na Ucrânia?

Os bombardeamentos – que duram há oito anos – no Donbass, o assassinato generalizado de sindicalistas e oposicionistas, a prisão de democratas, os desmandos e chacinas perpetrados pelos batalhões nazis ucranianos sobre o seu próprio povo, a perseguição e tortura dos chamados pró-russos – seja lá o que for isso -, não vos alertaram? Não deram por nada? Tudo isto dura desde 2014. 2014! Porque diabo é que julgam que se chegou à guerra? Só pelo perfil psicológico de Putin, arvorado pelos pobres de espírito norte-americanos em vilão de um filme da Marvel?

Todos sabemos há muito como se organizam os regimes autocráticos – todos eles! – e as hierarquias a que obedecem: no topo, os autocratas, logo a seguir a polícia política e forças repressivas congéneres; depois, a guarda pretoriana, a classe possidente dominante e, envolvendo tudo isto, um sistema judicial dotado de…”plasticidade” moral. Agora, que se observam ruturas na cúpula de regime, os comentadores que tanto mimavam Zelensky, começam a ficar fartos das suas homilias diárias, dos seus delírios de grandeza, na sua recusa em procurar caminhos para a paz. E descobrem que há terror interno, que Zelensky comanda um regime assassino e canalha.

Sei que muitos amigos vão, de boa-fé, admito, abominar este texto. A consciência coletiva está demasiado condicionada pela contrainformação oficial. Reina, sobre este assunto, um maniqueísmo impenetrável. Alego em minha defesa que escrevi sobre isto – até por conhecer in loco a Ucrânia de outros tempos – há anos, mais exatamente em 2014. Como outros amigos, que bem viam o que estava a acontecer naquele país. Muito antes de soarem as trombetas da guerra.

Oxalá a paz ainda possa atalhar a tragédia que alguns parecem querer prolongar. Não há almas brancas nesta situação. Mas ainda há quem tenha os olhos abertos para os perigos dos caminhos que os traficantes de guerra e vampiros em geral parecem insistir em trilhar.


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7 pensamentos sobre “Dos surpreendidos de última hora

  1. Bom artigo, que li com todo o interesse. Estou plenamente de acordo com o autor que parabenizo pela sua clareza intelectual. Cumprimentos e força moral. Não à hipocrisia com o criminoso Zerolensky.

  2. Penso que já se pode começar a falar a verdade. Há uns tempos atrás , falar dela corria-se perigo de morte. Bastava ver isso nos olhos das pessoas que nos olhavam. Estavam completamente drogadas pelos meio de manipulação social , o qual já dá sinais de fadiga. Noticiar mentiras é entrar na fantasia. Uma vez na fantasia entra-se na insanidade. É onde eles estão!

    • Tudo certo. Só gostava de perceber o processo psicológico de quem continua todos os dias a ouvir a voz e a ver a cara de quem lhes mentiu tanto. Ou ainda não sabem que foram manipulados, ou gostam da manipulação, ou simplesmente colocam isso num buraco fundo nos confins do cérebro de forma a continuar a lidar com o dia-a-dia?
      Por exemplo, como é que se continua a lidar com gente que apoiou Nazis, com gente que fez propaganda sobre o fantasma de Kiev, etc? A maioria gosta de ser manipulada? Ou é só preguiça em desligar a TV e ir à procura da informação? E como é que se tira a humanidade deste ciclo destrutivo? É que isto aconteceu na guerra proxy da Ucrânia numa escala nunca antes vista, mas noutras escalas menores acontece todos os dias sobre uma enorme variedade de assuntos. Nunca mais me esqueço do ataque em matilha que fizeram ao Robles (goste-se ou não). Um rapaz que fez um contrato de 10 anos com um casal de velhotes para cobrar 170€/mês numa casa renovada no meio de Lisboa, foi marcado como “especulador” (porque para os quartos vazios pediu rendas iguais ao resto do mercado) e o regime só largou o osso quando ele se demitiu. É todo um sistema, e povo, insano da cabeça aos pés.

  3. Também eu sabia disso desde o inicio desta guerra. Muita gente se riu de mim quando falava sobre esta guerra com pessoas amigas …Mas a verdade é como o azeite vem sempre ao de cima. Vamos lá ter a coragem de contar a verdade dos factos sem medos. Pois até parece que quem o faz está do lado de quem quer que seja …Viva a Paz !!!

  4. Pois, mas os que recusam os factos e negam a verdade, sabem bem do lado de quem estão (ultra-naZionalistas ucranianos, e fachedo da “elite”/oligarquia ocidental) e sabem bem o que querem (guerra contra os não-ocidentais). É por isso que se mascaram tanto de virgens ofendidas quando a sua narrativa começa a ser desmontada. Porque o ataque e insulto em forma de falsa indignação é a única coisa que sobra a quem não tem argumentos, e por outro lado a negação é também um mecanismo natural dos ignorantes lidarem com a revelação da verdade, que revela também como foram manipulados. E depois, claro, há a esmagadora maioria facilmente manipulável pela imagens da destruição e morte. E como são superficiais ou ingénuos, acham que ficam bem “informados” ao levarem com aquilo todos os dias, sempre do mesmo lado, sempre apresentado pelas mesmas pessoas. É quase uma Síndrome de Estocolmo… “eles bateram na verdade, mas eram bem intencionados”, “eles manipularam-me, mas foi por uma boa causa”, “aqueles com tatuagens nazi até são sim senhor, porque do outro lado está o mauzão”, etc.

  5. Os manipulados, são covardes que fazem sempre a vontade dos poderosos. A burguesia é perita em criar esta aberração hà 500 anos. exemplo é como criar porcos.

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